Objetivos
O objetivo geral do POSAFRO é o de desenvolver, de acordo com epistemologias e práticas de caráter multi/interdisciplinar, reflexão e produção científica que contribuam para expandir o campo dos estudos étnicos e africanos no Brasil, sobretudo pelo estímulo a modelos e recortes de pesquisa que, além de explorar temas e objetos em geral marginalizados, ponham em relevo as articulações, interfaces, intercâmbios e conflitos que constituem os fenômenos culturais, buscando assim qualificar a interpretação relacional ou comparativista de fenômenos sociais africanos que também mobilizam a sociedade brasileira, destacadamente no que diz respeito ao trabalho crítico voltado para as identificações raciais e as expressões do racismo.
Ao se estruturar entre diferentes campos disciplinares da área das Ciências Humanas, o POSAFRO investe em formas de diálogo teórico-crítico e de cooperação intelectual que se mostram cada vez mais úteis, ou indispensáveis, para o trabalho científico com a diversidade dos povos e das sociedades, das linguagens, estéticas e crenças, das perspectivas históricas e visões-de-mundo. Através da formação interdisciplinar em nível de Mestrado e Doutorado, pretende-se a capacitação de quadros universitários para que possam atuar, de maneira versátil e criativa, no desenvolvimento de avaliações e respostas, principalmente nos âmbitos da educação e da consultoria junto a organizações governamentais e não governamentais, nacionais ou internacionais, para as diversas questões suscitadas pelas reivindicações identitárias, pelas políticas afirmativas e de combate à discriminação, assim como no fomento à criação de redes atlânticas, diaspóricas e austrais de cooperação internacional.
É nossa convicção que a formação de profissionais deve partir de uma visão interdisciplinar através do exercício da capacitação para o exercício profissional e investigativo, visando perceber diferentes perspectivas e enfoques sobre aproblemática afro-brasileira, afro-latina e africana, e desenvolver a capacidade de análise contextualizada, através de exercícios de prática de pesquisa. Com este propósito, o POSAFRO age na formação de mestres e doutores, oriundos de diversas áreas disciplinares, para atuar em universidades, centros de pesquisa, agências governamentais, organizações não-governamentais, bem como organismos nacionais e internacionais e instituições privadas no Brasil e em outros países, especialmente na América Latina e África, e onde mais seja necessário o conhecimento sobre África e Brasil e/ou relações raciais ou étnicas. Forma ainda professores para o ensino médio, bem como produtores de materiais didáticos ou para-didáticos de apoio a este nível de ensino. Temos formado ainda alunos que atuam em cursos de extensão presenciais e on-line, visando um público importante e numeroso na Bahia e no Nordeste, que não reúne, ainda, condições de frequentar Programas de Pós-Graduação stricto sensu.
Enfim, nossos egressos têm-se dedicado de forma sistemática a atividades de pesquisa, sendo contemporaneamente difusores de novas formas de pensar a realidade, notadamente no que tange aos aspectos relacionados à identidade e às relações raciais, ajudando a superar barreiras construídas ao longo de séculos. Só o sólido conhecimento produz os instrumentos para a superação de preconceitos e o estabelecimento de relações sociais mais justas e humanas.
O programa, de caráter presencial e semestral, concede títulos de Mestre ou Doutor em Estudos Étnicos e Africanos. A distinção entre as especialidades ocorre em razão dos projetos de pesquisa de cada aluno, os quais devem se filiar a uma das duas Linhas de Pesquisa (Estudos Étnicos e Estudos Africanos), e assim integralizar os créditos em disciplinas optativas e outras atividades orientadas para a mesma linha de pesquisa. Com o objetivo de prover os estudantes com formação básica teórica e metodológica na temática da etnicidade, o programa oferece duas disciplinas obrigatórias no primeiro semestre de ingresso (Teoria da Etnicidade e Seminário de Metodologia de Pesquisa), sendo indicadas as disciplinas optativas em correspondência com as áreas vinculadas a uma das linhas de pesquisa acima citadas.
Nos segundos semestres de cada ano é oferecido um leque maior de disciplinas optativas (e tópicos especiais) que, além dos alunos regulares, recebem os chamados alunos especiais (no semestre 2017.1., foram ministrados as seguintes disciplinas e tópicos especiais: “Identidade étnica e literatura”, pela professora Florentina Souza; “História cultural e antropologia”, pelo professor Nicolau Parés; “Etnografia de religiões de matriz africana, pelos professores Miriam Rabelo, Clara Flaksman e Fábio Lima. No semestre 2017.2, foram ministrados as seguintes disciplinas e tópicos especiais: “Estudos pós-coloniais e descoloniais, diálogos com as teorias do sul”, pela professora Margarida Paredes; “Teorias de gênero, feminismos e produção de conhecimento em África”, pela professora Patrícia Godinho Gomes; “A civilização islâmica: história, religião, sociedade, atualidade e geopolítica”, pelos professores Livio Sansone e AngelaLano; “Ética e política do pensamento do sul global” (T.E.), pelo professor Diego Ferreira Marques; “Linguagem e culturas” (T.E.), pelo professor Jesiel Oliveira Filho). Para os denominados alunos especiais, tais disciplinas funcionam como uma espécie de propedêutico a partir do qual aprimoram suas leituras e projetos, visando o ingresso como alunos regulares. Os alunos especiais, nos últimos dois anos, têm organizado grupos de leitura e redação em ciências humanas e línguas estrangeiras (inglês e francês), que se reúnem regularmente em um das salas do CEAO, quase sempre sob a orientação de um docente de nosso Programa. Estes grupos de estudos também contribuem para a preparação de projetos para a seleção de mestrado.
Os ingressantes são estimulados a cumprir os créditos no menor prazo. Além dos créditos obtidos em disciplinas, os alunos devem integralizar créditos ao participarem em reuniões das Linhas de Pesquisa, participar em eventos acadêmicos, apresentar trabalho em eventos, publicar trabalhos acadêmicos, pesquisa orientada, e organização de eventos acadêmicos. Assim a organização de todos os seminários, minicursos e simpósios organizados pelos POSAFRO conta com a participação ativa dos alunos do Programa.
As disciplinas em sala de aula são desenvolvidas para os mestrandos nos dois primeiros semestres e para os doutorandos até o terceiro semestre. O objetivo é fazer com que haja um tempo exeqüível para a realização da pesquisa e cumprimento do prazo para o exame de qualificação: terceiro semestre para o mestrado e quarto semestre para o doutorado.
O Programa tem caráter inovador, em termos teóricos e epistemológicos, ao suscitar estudos comparativos e uma releitura do patrimônio das ciências humanas, à luz da questão étnico-racial e de temas africanos. A concretização do caráter interdisciplinar do Programa se dá, por um lado, na sua estruturação curricular e no perfil dos docentes permanentes e colaboradores. Oriundos de diferentes áreas disciplinares (Música, Letras, Antropologia, Educação, Sociologia e História), A interdisciplinaridade é buscada ainda nos projetos que envolvem docentes de áreas disciplinares distintas, co-orientação crescentemente implantada e na forma como as disciplinas são concebidas e implementadas. Neste caso, embora as disciplinas sejam formalmente regidas por um dos docentes - em razão do sistema geral de atribuição de carga de trabalho da Universidade-, tem se procurado, amiúde, incentivar a lecionação conjunta envolvendo, no mínimo de dois docentes, e assegurando a diversidade das perspectivas teóricas e epistemológicas e um efetivo exercício da interdisciplinaridade. Essa prática de leccionação conjunta tem sido recorrente com todos os PVE e de forma crescente com os docentes permanentes. É verdade, contudo, que a estrutura departamental da universidade não facilita esse tipo de démarche.
O envolvimento de mais de um docente com uma disciplina tem sido mais intenso nas duas disciplinas obrigatórias, e, sobretudo naquela de metodologia (é o caso da disciplina obrigatória “Seminários de metodologia da pesquisa” ministrada pelos professores Jamile Borges e Valdemir Zamparoni em 2016.2), assim como em uma série de disciplinas optativas - frequente organizadas como Tópicos Especiais de 1, 2 ou 3 créditos (os casos das disciplinas acima mencionadas ministradas pelos professores Diego Ferreira Marques e Jesiel Oliveira Filho no semestre 2017.2) – que tem cotejado o tema central das duas disciplinas obrigatórias. É este o caso do Seminário Sobre Teoria Crítica Africana e Caribenha, organizado pelo doutorando Guillermo Navarro no semestre 2017.2 e da disciplina sobre Etnografias das etnicidades no Caribe ministrada por Marcelo Mello em 2017.1. Nestas duas últimas disciplinas participaram como docentes convidados mais de dez colegas do POSAFRO e, em menor medidas, outros programas de PG.
Neste sentido, têm sido ministradas no Programa disciplinas semestrais, quer relativas à história africana com perspetivas interdisciplinares (disciplina “África: ciência e colonialismo”- ministrada alternativamente pelos professores Cláudio Alves Furtado e Valdemir Zamparoni, ambos professores permanentes do POSAFRO e professores de História de África no curso de graduação em História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA), quer relativas às relações de gênero no continente negro (disciplina «África negra: colonialismo, modernização, raça e gênero” e “África negra: relações de gênero, feminismos e produção de conhecimento”, ambos ministrados pela professora Patrícia Godinho Gomes, pós-doutoranda do POSAFRO e professora colaboradora no mesmo programa. Têm sido igualmente ofertados mini-cursos, seminários e atividades de extensão, sobretudo nos últimos dois anos, sobre temas relativos às realidades afro-brasileiras e sobre temas africanos. Entre as atividades de extensão merece destaque a criação, por iniciativa dos discentes do POSAFRO (em colaboração com discentes provenientes de outras universidades da Bahia e do Brasil), o coletivo “Lendo Mulheres Negras”, constituído em 2016. O grupo tem por finalidade discutir obras de mulheres negras sobre as mais variadas temáticas, no sentido de dar a conhecer ao grande público autoras negras que têm contribuído não apenas para a construção de um conhecimento descolonial, bem como para o aprofundamento de questões raciais, políticas e sociais de interesse para a sociedade brasileira e, mais especificamente, baiana.
Enfim, diferentes seminários têm sido realizados a nível da pós-graduação. Em particular, podem ser mencionados:
A partir de Dezembro de 2015, quando a comunidade POSAFRO se reuniu no Seminário Comemorativo dos 10 anos de fundação, iniciou-se um trabalho coletivo de recapitulação do percurso seguido, de avaliação de resultados acumulados, de acompanhamento dos egressos e de planejamento para o futuro, considerando as expressivas mudanças que afetam, contemporaneamente, as problemáticas identitárias. No caso brasileiro, o inquietante recrudescimento de atitudes discriminatórias e intolerantes reforça a urgência de iniciativas educativas em larga escala no campo das relações etnicorraciais, bem como na formação de quadros administrativos habilitados para os desafios emergentes no combate ao racismo e na gestão das diferenças.
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